Os resultados saíram e você não entendeu como eles chegaram naquele número?
Ao imaginar como é calculada a nota de uma prova, costumamos pensar naquele modelo tradicional da porcentagem: se acertei 30 de 45, minha nota será 6,6 (66%), por exemplo. Porém, no ENEM, a nota é calculada de uma forma bem diferente.
A partir de 2009, o ENEM passou a adotar a Teoria de Resposta ao Item (TRI) para o cálculo das notas das provas objetivas. A vantagem dessa metodologia é que ela permite a comparabilidade dos resultados de provas diferentes (de anos diferentes e também de aplicações diferentes no mesmo ano – pois há mais de uma prova por ano). Além disso, a TRI consegue medir corretamente a proficiência (desempenho) do aluno, independente do nível de dificuldade da prova, o que torna o resultado mais confiável.
Para fazer isso, primeiramente é construída uma “escala de proficiência”. A sua nota representa o ponto dessa escala em que você se encontra, ou seja, a sua proficiência naquele teste. Parece confuso, né? Mas vamos explicar melhor.
Para começar, é preciso saber como é essa tal “escala” ou “régua”. No caso das provas objetivas do ENEM, temos 4 réguas: uma para cada área do conhecimento. A régua de Ciências Humanas, por exemplo, é composta por um conjunto de questões pré-testadas e calibradas. Ou seja, as questões são elaboradas, aplicadas em grupos de teste e com isso temos um parâmetro de dificuldade para cada questão. A ideia é a seguinte: se uma questão é muito difícil, só alunos de proficiência muito alta (por exemplo, 800) devem acertá-la. Essa questão é colocada na “posição 800” da régua.
Na prova do ENEM aplicada em 2015, por exemplo, tivemos 45 questões de Ciências Humanas distribuídas ao longo de uma régua. A questão de número 35 (supondo) é muito difícil, então estima-se que somente os alunos de proficiência maior que 820 irão acertá-la.
A nota -ou proficiência- do aluno será aquele ponto da régua em que ele para de acertar e começa a errar. É o “alcance” dele nessa escala.
A figura mostra a distribuição das questões, ao longo da régua, conforme o parâmetro de dificuldade. Além disso, podemos ver onde foram inseridos os participantes A e B, cujas proficiências são aproximadamente 650 e 400, respectivamente.

Podemos notar, na imagem, que a nota 500 aparece em destaque. Esse valor é importante pois representa a posição de referência da escala. É o seguinte. A TRI, para fins de comparação ano a ano e para assegurar determinados parâmetros de qualidade, parte de um grupo de referência. No caso do ENEM, comparamos todos os resultados (dos mais de 7 milhões de alunos que fazem a prova a cada ano) com os resultados dos concluintes do Ensino Médio de escolas públicas do ano de 2009. Ao desempenho médio desse grupo de 2009 foi dada a nota 500 e, a partir daí, as notas são atribuídas de forma comparativa ao valor de referência.
Quanto mais você se distancia (para cima ou para baixo) do grupo de referência, maior ou menor será a sua nota. Mas é importante notar que o valor 500 representa um conjunto de conhecimentos diferente em cada área do conhecimento. Por exemplo, em Matemática, os alunos (inclusive aqueles do grupo de referência) costumam acertar menos questões do que em Linguagens. Vamos imaginar que 500 seja a nota atribuída para quem acertou 10 questões em Matemática e também (500) para quem acertou 20 em Linguagens. Se as pessoas acertam mais, a média é maior e, por isso, é mais difícil se distanciar da média. Esse é o caso de Linguagens. É por isso que, em Matemática, a nota máxima (atribuída para quem acertou os 45 itens) é maior: a distância entre 10 e 45 é de 35 itens, já a distância da média em Linguagens (20), para quem acertou 45, é de 25.

Portanto, cuidado ao comparar as suas notas de cada área. A nota 750, por exemplo, pode ser ótima em uma área, mas não tão boa em outra área. Procure comparar a sua nota, em cada área, com a nota dos seus colegas na mesma área, e não entre provas diferentes (já que a régua é diferente!).
Mas ainda há um outro conceito muito importante para atribuição das notas: o da Coerência Pedagógica. Observe a imagem.

Essa imagem simula uma prova com 10 questões, com diferentes níveis de dificuldade, distribuídas ao longo de uma régua. Temos a comparação de dois alunos (A e B) que acertaram, cada um, 5 das questões. Em uma prova comum, eles teriam a mesma nota (5/10). Porém, a TRI consegue fazer uma análise muito mais profunda do resultado, pois vê o quão coerente é a prova realizada por cada aluno (conforme os seus acertos ao longo da régua de dificuldade). Vamos imaginar que há duas questões de geometria nessa prova, uma envolvendo o cálculo simples da área de um quadrado e outra sobre o volume de um cone com medidas dadas em fração. Temos que concordar que não faz sentido o aluno errar a do quadrado e acertar a do cone. É provável, se isso acontecer, que ele acertou a segunda questão mesmo sem dominar a habilidade cobrada, ou seja, que ele chutou.
Não há uma caça ao chute no ENEM. Porém, em 45 questões, se um estudante acertar só as mais difíceis e errar as mais fáceis, é de se imaginar que aquele resultado não representa tão bem o seu conjunto de conhecimentos, então ele não irá ganhar tantos pontos quanto se tivesse acertado com maior coerência. Portanto, se o aluno acerta as mais fáceis (respondendo naturalmente a prova), sua nota será mais alta.
No caso da imagem, o Participante A acertou com maior coerência que o Participante B, por isso sua nota é 480 (enquanto a do outro é 310). Dessa forma, se você e seu amigo acertaram a mesma quantidade de questões em determinada prova (20 de Humanas, por exemplo), é bastante improvável que as suas notam sejam as mesmas, pois vocês não acertaram as mesmas questões, mas cada um mostrou o seu conjunto de conhecimentos e habilidades desenvolvidas.
Se você quiser saber mais, consulte o “Guia do Participante – Entenda a sua nota (2012)”, disponível no site do INEP. As imagens presentes nesse texto foram retiradas desse documento.