Por Catia Melo
Bióloga pelo Centro Universitário Fundação Santo André, curso técnico em Nutrição e Dietética, mestranda em Neurociência e Cognição pela UFABC, professora de Biologia no Cursinho Maximize.
Por que ser obeso impacta a saúde pública?
Nos últimos anos têm crescido rapidamente em todo o mundo o número de pessoas obesas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), este número mais que duplicou desde 1980. Em 2008, mais de 1,4 bilhão de adultos apresentavam sobrepeso e, destes, mais de 500 milhões eram obesos. Já em 2014, o número de indivíduos com sobrepeso ultrapassou 1,9 bilhão de adultos e 600 milhões de obesos. Em estudo publicado pela revista científica Lancet em 2014, verificam-se estes altos números também na população brasileira, colocando-nos entre os países mais obesos do mundo. Segundo os pesquisadores, cerca de 30 milhões de brasileiros adultos apresentam obesidade. Estes dados justificam considera-la como epidemia, além do fato de hoje ser prevalente não apenas em países cujos habitantes possuam alto poder aquisitivo, mas também em países de renda baixa ou média.
Quem é considerado obeso?
O indivíduo é considerado obeso quando seu índice de massa corporal é igual ou superior a 30. Para calcular seu índice, divida a massa (em quilogramas) pela sua altura ao quadrado, como descrito a seguir:

Fonte: Ministério da Saúde; World Health Organization (WHO).
Embora a baixa oferta de alimentos variados e a consequente desnutrição em diferentes países seja uma causa importante de morte, a maioria da população mundial vive em países onde o excesso de peso e a obesidade matam mais pessoas do que o baixo peso. Vale considerar também que, mesmo que o indivíduo apresente um índice de massa corporal eutrófico, não necessariamente ele é saudável. É necessário verificar frequentemente os índices de colesterol e glicemia, por exemplo, que podem não estar associados diretamente à obesidade.
Causas e consequências
Entre as causas da obesidade, observam-se fatores genéticos associados a interações do ambiente, como os maus hábitos alimentares e o sedentarismo. Assim, ela é geralmente o resultado de um desequilíbrio entre o número de calorias ingeridas na alimentação e as calorias gastas em atividades físicas. Com as comodidades da atualidade, sobretudo relacionadas à tecnologia, as pessoas tendem a se movimentar cada vez menos. Além disso, com o aumento da sensação de insegurança nas grandes cidades, as crianças permanecem um tempo maior dentro de suas casas ao invés de brincarem ao ar livre ou praticarem esportes, o que têm colaborado com o aumento da obesidade infantil.
O aumento do tempo gasto com trabalho e formação acadêmica, por exemplo, tem contribuído para um menor período disponível para o preparo ou para escolha dos alimentos das refeições. Com isso, opta-se frequentemente por alimentos industrializados ricos em sódio, açúcares e gorduras trans. Estes contribuem não apenas para o aumento de massa como também para o aumento de colesterol, glicemia e triglicérides.
Como consequências, além de uma redução de auto-estima e, de maneira geral, em sua qualidade de vida, o indivíduo obeso tem maiores chances de apresentar cardiopatias, diabetes, hipercolesterolemia, osteoartrite, apneia do sono, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, esteatose hepática, hérnias da parede abdominal, refluxo gastroesofágico, entre outras patologias.
Dicas importantes para evitar a obesidade
1) Manter seu IMC entre 18,5 e 24,9.
Para manter seu índice de massa corporal em número adequado é primordial a reeducação alimentar. Equilibrar a ingestão de carboidratos, lipídeos e proteínas é fundamental. Muitas vezes, opta-se por dietas desequilibradas ou medicamentos que auxiliam na redução de peso que, embora possam apresentar algum resultado interessante em curto prazo, nem sempre são salutares por períodos mais longos. A partir de diferenças de idade, estrutura corporal, hábitos alimentares, tipo de atividade profissional exercida e rotina de atividades físicas, cada indivíduo tem uma necessidade específica de calorias e nutrientes que apenas um nutricionista pode indicar com segurança, distribuindo-as em uma dieta equilibrada e variada.
2) Limitar a ingestão de gordura total.
Prefira o consumo de gordura insaturada ao invés de gordura saturada. A gordura insaturada é de origem vegetal, como a presente no azeite de oliva, na castanha-do-pará e no abacate, por exemplo. A gordura insaturada é de origem animal, como a presente nas carnes vermelhas e brancas, no creme de leite, na manteiga, entre outros. Já a gordura trans, que deve ser evitada, é formada a partir de um processo químico denominado hidrogenação. Este tipo de gordura é encontrado em alimentos industrializados como sorvetes, salgadinhos, batatas fritas e biscoitos.
3) Aumentar o consumo de frutas, hortaliças e legumes.
São alimentos ricos em vitaminas e sais minerais, substâncias estas que atuam como reguladores, auxiliando em algumas funções importantes do nosso metabolismo. Podem auxiliar na digestão, na circulação sanguínea, bem como na atuação do sistema imunológico. Por serem alimentos ricos em fibras, auxiliam também no bom funcionamento dos intestinos. Porém, vale lembrar que, para estas ações também é importante verificar o consumo de água, que deve ser em torno de dois litros diários.
4) Limitar a ingestão de açúcar e sal.
O açúcar em excesso na alimentação aumenta a glicemia e é um poderoso agente para obesidade, além de contribuir para o estabelecimento de um quadro de diabetes. O sal em excesso contribui para o aumento da pressão arterial, além de proporcionar retenção hídrica e sobrecarregar os rins no processo de filtrar o sangue.
Atualmente, existem inúmeros aplicativos interessantes que podem trazer sugestões para uma alimentação saudável e equilibrada, associada ao consumo de água, a uma boa qualidade de sono e a realização de atividade física. Porém, é fundamental o acompanhamento com profissionais da saúde, como nutricionistas ou médicos endocrinologistas na prescrição de dietas, educadores físicos no acompanhamento da atividade física a ser praticada, médicos cardiologistas para verificar sua saúde cardiovascular antes de iniciar a atividade física, psicólogos para casos de anorexia, bulimia ou compulsão alimentar, entre outros. Optar por uma alimentação saudável é o primeiro passo para garantir uma boa qualidade de vida.
Glossário:
Eutrofia: Nutrição de boa qualidade.
Cardiopatia: Doença do coração.
Hipercolesterolemia: Elevação das taxas de colesterol no sangue.
Osteoartrite: Doença das articulações a partir da degeneração de cartilagens.
Apneia do sono: Distúrbio no qual o indivíduo sobre breves interrupções da respiração enquanto dorme.
Hipertrigliceridemia: Elevado nível de triglicérides no sangue.
Esteatose hepática: Acúmulo de gordura nas células do fígado.
Refluxo gastroesofágico: Doença na qual a mucosa do tubo digestório fica irritada pelo ácido estomacal ou pela bile.